segunda-feira, 14 de agosto de 2017

[Playlist] Chico Science & Nação Zumbi são #MúsicaNasOiça


Confira essa playlist sensacional com clássicos dos precursores do manguebeat. Dá o play que isso é #MúsicaNasOiça!

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

[Album Review] Estado de Poesia


O Estado de Poesia, de Chico César, é fruto da crise por que passamos o público e o artista. Diante da atual conjuntura estético-musical, caracterizada por canções de mau gosto dedicadas a tratar de temas rasteiros por meio de uma linguagem pobre e depreciativa, o trabalho do cantor e compositor paraibano é um grito de lucidez no quarto sem vida que é a música popular no Brasil de hoje. Há exceções, obviamente – como os discos Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos (2009), de Otto, e Chão (2011), de Lenine; mas a maior parte do que se produz é a consolidação de uma proposta antipoética, que contraria os objetivos da MPB de cinquenta anos atrás.

A ideia que alicerça nossa música popular – e que é ignorada pelos compositores das “pisadinhas” e “tchê-rê-rê-tchê-thês” – é sua interpenetração com a arte escrita; e Chico César (como sempre fez em sua carreira) a alcança com glória. A canção que dá nome ao disco é um dos mais belos poemas da literatura contemporânea. Seus versos são uma transposição para o estado de elevação evocado. Reparem-se nos trechos abaixo a riqueza da linguagem com que se descreve a poesia que emana daquele que ama, a maneira como se aborda a esquizofrênica complexidade da paixão, a sonoridade das aliterações e das rimas:

Para viver em estado de poesia
Me entranharia nestes sertões de você

[...]

Chega tem vez que a pessoa que enamora
Se pega e chora do que ontem mesmo ria
Chega tem hora que ri de dentro pra fora
Não fica nem vai embora
É o estado de poesia

Ao tempo em que trata do amor de forma profunda e enlevada, Chico também o faz de maneira bem humorada e lúdica, percebida não só pela escolha do vocabulário, como também pela melodia alegre (que reforça o significado da palavra “arenguêra”) da canção Palavra Mágica.

Meu coração de novela
Só quer você, minha vida

Arenguêra

O Estado de Poesia é uma obra de arte. E, enquanto arte, fala desta de forma primorosa, por meio de uma metapoesia dedicada à problemática da inspiração, realização e apreciação do objeto artístico. Essa metapoesia é responsável por dar forma ao pensamento provocador de todo o trabalho de Chico César, que brinca com os sentidos e constrói um linguagem própria, como na canção Museu, cujo conteúdo semântico reproduz o sentimento invocador da arte que conceitua todo o álbum.

Musa eu sou seu museu
Do jambo pendurado no jambeiro
E se sonha passa pássaro e balança baloiça


O racismo é outro tema presente, não só neste álbum, mas em toda a criação de Chico César – a exemplo das clássicas Mama África (Cuscuz Clã, 1996) e Respeitem Meus Cabelos, Brancos (Respeitem Meus Cabelos, Brancos, 2002). Assim como subverte os sentidos na assimilação que fez da composição de Herivelto Martins (“Respeitem ao menos meus cabelos brancos”), associa termos sonoramente parecidos para denunciar o preconceito racial sofrido cotidianamente pelos negros, (violentamente) destituídos de sua própria negritude.

Negam que aqui tem preto, negão
Negam que aqui tem preconceito de cor
Negam a negritude, essa negação
Nega a atitude de um negro amor

A linguagem de Chico é, assim, técnica e intuitiva. Um ímpeto criativo que se confunde com a realidade do homem a ponto de recriá-la, modificá-la; seja numa zona de transcendência do eu, como na canção Da Taça, seja na apresentação de uma peça em que nossos vícios são colocados à mostra, como em No Sumaré (inspirada na Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa). Enquanto na primeira, a poesia de Chico se propõe a divagar pelo (in/sub)consciente, através de imagens inexatas (“Ninguém vem, suponho é um sonho meu”), a segunda tece uma dura crítica social, disfarçada pela uso que se faz da palavra (“E hoje só resta a praça vazia/Onde na noite fria o cachorro do rico faz o seu pipi”).


O poeta paraibano fecha o disco com um manifesto contra o “agrebiz”, como o autor chama o agrobusiness num dos versos de Reis do Agronegócio. A canção é uma enxurrada de verdades escondidas pela grande mídia, para a qual o “agro é tudo”. Esse é, talvez, o ponto alto do disco, o clímax de sua narrativa, uma catarse de 11 minutos. Objetivo e atual, Chico vai fundo nos problemas naturais, sociais e econômicos trazidos pela indústria agropecuária, através de um cruzamento de referências que resgata a história recente do ruralismo no nosso país; como a alusão à ex-Ministra da Agricultura Kátia Abreu, conhecida como miss desmatamento (“Pobre tem mais é que comer com agrotóxico/Povo tem mais é que comer se tem transgênico/É o que acha, é o que disse um certo dia/Miss motosserrainha do desmatamento”) e ao constante debate entre ecologistas e os que defendem esse sistema de exploração.

Vocês me dizem que o brasil não desenvolve
Sem o agrebiz feroz, desenvolvimentista
Mas até hoje na verdade nunca houve
Um desenvolvimento tão destrutivista
É o que diz aquele que vocês não ouvem
O cientista, essa voz, a da ciência
Tampouco a voz da consciência os comove
Vocês só ouvem algo por conveniência

Estado de Poesia é, enfim, um rico e belíssimo trabalho, que transita entre a leveza e a dor do ser, marcado pelo sotaque nordestino e negro de Chico, que em mais de 20 anos de carreira tem nos presenteado com canções que são de encher os olhos e fazer dançar a noite inteira. Chico César é #MúsicaNasOiça!

Willy Nascimento Silva

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

[Playlist] Caetano Veloso é #MúsicaNasOiça


Em homenagem aos 75 anos desse gênio da MPB, preparamos uma incrível playlist pra você curtir. Caetano Veloso é #MúsicaNasOiça!

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Ney Matogrosso será homenageado no 28º Prêmio de Música Brasileira


A vigésima oitava edição do Prêmio de Música Brasileira, que acontece hoje (19), no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, prestará homenagem a Ney Matogrosso. O artista subirá ao palco do evento para apresentar cinco canções; dentre elas Rosa de Hiroshima, Pro Dia Nascer Feliz e Melodia Sentimental. A noite contará ainda com as participações de Chico Buarque, Lenine, Pedro Luís, BaianaSystem e outros nomes da MPB. A cerimônia será apresentada pela atriz Maitê Proença e pela cantora Zélia Duncan e será aberta ao público. Ney Matogrosso é #MúsicaNasOiça!

Willy Nascimento Silva

''Caravanas'', novo álbum de Chico Buarque


Com lançamento previsto para o final de agosto, Caravanas, o novo trabalho de Chico Buarque conta com nove faixas, sendo sete inéditas. Além das novas canções, o disco terá duas regravações de composições de Chico ainda não registradas na voz do cantor. O álbum será lançado pela Biscoito Fino, selo pelo qual o compositor gravou Chico, de 2011. O single Tua Cantiga, que chega às plataformas digitais ainda esse mês, marca o retorno da parceria de Chico com o músico Cristóvão Bastos, coautor da clássica Todo o Sentimento. Chico Buarque é #MúsicaNasOiça!

Willy Nascimento Silva